sexta-feira, 8 de julho de 2011

O Indigente

          Um homem qualquer caminha pela estrada, com os pés esfolados, olhar perdido, sem destino. Alguém avista aquela figura, fica penalizado, resolve ampará-lo. Para o carro, coloca o desconhecido no banco, ele não reage, então, decide levá-lo ao hospital, está com os pés em carne viva, o que será que aconteceu àquela pobre alma? Não sabe responder, apenas acha que está fazendo o correto.

          Deixa o homem na companhia de médicos e enfermeiros, com a consciência tranquila se despede, mas o homem mantém o olhar distante, nem mesmo percebe sua saída, não esperava agradecimento mesmo, percebera desde o primeiro momento que ele não estava lúcido.

          Os médicos o examinam, nada grave, os pés estão em carne viva, parece ter andado muitos quilômetros descalço, os enfermeiros fazem a higiene corporal, percebe-se uma tatuagem, os dentes parecem bem cuidados, as primeiras perguntas demonstram sua desorientação, não sabe de onde é, nem o próprio nome.

          Talvez, seja um andarilho, um bandido, um indigente qualquer, mas como saber? É possível também que seja ente querido de alguém, que esteja desaparecido, podem estar procurando por ele em algum lugar, sofrendo, em desespero com seu desaparecimento. Provavelmente foi atendido em outros lugares e, logo em seguida liberado com algum dinheiro sem que ninguém tivesse interesse pelo caso.

          Três dias passam, ele está quieto, alimenta-se, dorme, recupera-se das feridas nos pés. De repente algo acontece, sua atitude muda, descontrola-se, fica violento, então é sedado. A assistência social e psicológica  é acionada, detectam um surto, acreditam ser esquizofrenia. Uma fisioterapeuta, um enfermeiro e alguém da área burocrática, decidem ajudar. Pedem que aguardem antes de transferi-lo ou liberá-lo.

          Conseguem descobrir seu nome, sua cidade natal, fazem contato e aguardam a localização de familiares. O sobrenome no Google parece ser de uma família importante do Sul do país. A expectativa é grande, estão esperançosos em devolvê-lo a sua família, para que receba o tratamento conveniente e, esteja protegido dos perigos da estrada.

          A chefia do hospital diz que não pode continuar ocupando um leito com ele, pedem mais uma noite, caso não consigam identificá-lo, será transferido para uma casa de repouso, ficará aguardando lá, até que seja localizada a família.

          Uma ideia surge: vamos fotografá-lo e pedir que assine seu nome, ele já consegue fazê-lo, assim enviamos os dados para facilitar o trabalho das autoridades de sua cidade natal. Chegam à porta do hospital, animados, de repente, a notícia estarrecedora: "O paciente foi embora!".

          O desfecho não foi o esperado, primeiro indignação com o desrespeito pela vida humana, depois um abatimento na alma com tamanha desumanidade e, por último já em suas casas os olhos enchem-se de lágrimas, afinal, o que pode ter acontecido ao pobre homem. Terá retomado sua caminhada perigosa pelas estradas com seu olhar perdido? Será que num acesso de loucura tenha se jogado de uma ponte acabando com a própria vida? Ou quem sabe esteja sofrendo algum abuso ou violência? Será difícil dormir por algumas noites com esses pensamentos em suas cabeças...

7 comentários:

Aclim disse...

A responsabilidade é pessoal. Faça o bem sem olhar a quem. frases feitas, clichês, porém verdadeiras.

Abraço

Anônimo disse...

Te seguindo tb, Maciel!
Aclim, esse clichê deveria ser amplamente seguido!
Abraçao pra vcs,

Rosivar

Luria Corrêa disse...

É, Rosivar, há muitos por aí que podem estar perdidos deste jeito. E do mesmo modo que a gente do bem, caridosa, a gente sem coração que com o fato nem se importa! É de indignar. Belo blog !

Abraço e bom fim de semana.
www.disturbiossobrios.com

Jasanf disse...

Belo conto. Sensacional história!
Abraço,
Jasanf.

Unknown disse...

Parabéns, historia esplêndida.

Anônimo disse...

Rosivar

Seu conto fica ainda mais triste se pensarmos que é real, que neste momento pode estar acontecendo algo parecido em algum lugar.

As dores do homem, que ferem os pés e a alma.

Anônimo disse...

Verdade Van!
Dores nos pés e na alma!
Pior que esse conto baseia-se numa história real vivida por uma pessoa querida, que chorou por não conseguir ajudar como gostaria...
Rosivar